segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Um livro

Harold Kushner é um rabino que decidiu escrever este livro, já há cerca de 25 anos trás, depois de ter acompanhado o seu filho na luta contra uma doença degenerativa que lhe tolheu a vida em plena adolescência. É um livro cheio de interrogações e desafios à fé que o habitava. Estou cada vez mais convencido que não há experiência humana que mais interfira na imagem que temos de Deus e nas seguranças que a nossa fé supostamente nos dá do que quando o sofrimento atroz nos bate à porta ou à daqueles que de mais perto nos rodeiam.
Porquê? Porquê a mim? Onde é que eu errei? Que mal fez esta criança? O que é que Deus me quer dizer com isto? Será que Ele não era capaz de o evitar? Estas e muitas outras perguntas podem parecer já gastas, infantis, sem resposta possível ou até sem qualquer utilidade. Mas este pai e líder de uma comunidade judaica não quis baixar os braços, cansados pela "injustiça" de tamanho sofrimento, e decidiu deixar o seu testemunho pessoal.
O título do livro pode levar-nos a pensar que se as coisas más acontecessem só a pessoas más tudo estaria resolvido. Mas, quem sou eu para julgar da bondade ou maldade de alguém? Será que uma coisa ruim (doença, morte de familiar, perda do emprego, problemas familiares...) que me acontece me transforma automaticamente numa má pessoa? Ou, pelo contrário, num mártir, partindo do princípio de que não o mereceria? Será que alguma vez seremos capazes de encontrar justificação para tudo o que de bom ou mau acontece?
Segundo a perspectiva cristã, é impossível deixar de reparar na falta que faz a este livro a pessoa de Jesus Cristo como a plenitude da redenção. Mas, muito mais importante que isso, não posso deixar de destacar, por um lado, a grande sensibilidade humana e, por outro, a clarividência intelectual, psicológica e teológica deste testemunho.

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