quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

"Ash Wednesday" em St Andrew

Deviam ser cerca de 4 da tarde quando entrei na igreja para substituir um colega. Desde manhã que lá estávamos alternadamente para impor as cinzas a todos aqueles que entravavam. Num dos últimos bancos estavam sentadas duas adolescentes que conversavam baixinho uma com a outra e olhavam curiosamente para aqueles que iam entrando e saindo. A determinada altura, levantaram-se e dirigiram-se a mim, em frente ao altar. Quando eu me preparava para lhes impor as cinzas como a todos os outros, uma delas adiantou-se, pediu-me para não o fazer e para lhes explicar o significado daquele gesto. Quando terminei, agradeceram e regressaram ao lugar. Alguns minutos depois, voltaram e pediram que eu lhes impusesse as cinzas também a elas. Ao terminar dei-lhes os parabéns pelo que tinham feito e mais ainda pela forma consciente como o tinham desejado fazer.
Mais do que em Portugal, por aqui a Quarta-feira de cinzas parece ser um dos dias que mais pessoas traz às igrejas. Muito mais do que no Natal, por exemplo. Em vez das 40/50 caras do costume, a Igreja estava literalmente a abarrotar, talvez com mais de 300 pessoas. St Andrew não é uma paróquia grande, se olharmos para o número daqueles que diariamente a frequentam. Na sua maioria são pessoas que trabalham nos escritórios e tribunais do bairro onde está situada, chamado Civic Center, em Downtown, Manhattan. As celebrações durante a semana são à hora de almoço: 12h10 e 13h05. Parecem horários esquisitos mas têm como única intenção coincidir com a disponibilidade das pessoas. Mas ontem foi de facto um dia diferente. Para além das que participaram nas duas Eucaristias, largas centenas de pessoas entraram, receberam as cinzas, rezaram durante alguns minutos e voltaram a sair.
Como é óbvio podemos “ler” esta enchente a partir das mais variadas teorias: superstição, tradição, medo causado pela grave crise económica que continua a deixar milhões de pessoas sem emprego e muitas mais receosas de o perder a qualquer instante, “estigma” daquele inesquecível dia 11 de Setembro de 2001 em que toda aquela zona ficou debaixo do manto de CINZAS em que as Twin Towers se transformaram.
Eu, ao fim do dia, pensei: e porque não admitir que Deus se pode servir das mais variadas formas para tocar os corações e os trazer um pouco para mais perto?? E se só voltarem daqui a um ano?? Bom, acho que cá estaremos para as receber novamente.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

As nossas dependências II - Truques da mente humana

Como prometido, cá estou de volta ao tema. Até porque sei que ou o faço agora ou já cá não volto. Estou a terminar o trabalho sobre o livro e já tenho outros na calha. Esta vida de estudante é tramada…
A psicologia da pessoa dependente é qualquer coisa de fascinante. Um dos capítulos do livro de May debruça-se sobre os esquemas que a mente humana inventa para tornar o "objecto de dependência" atraente e, de seguida, alimenta em vista de o fazer perdurar ao máximo. Eis alguns exemplos:
Negação: “Eu não estou dependente do tabaco! Só fumo porque me apetece!
Repressão: “Sei que não passo sem cinco cafés por dia mas não o admito em frente de ninguém, nem sequer de mim próprio. Afinal o que são cinco cafés?!
Racionalização: “Eu preciso de beber porque ando deprimido. É uma forma de aliviar!
Esconder: “Já não consigo passar sem a dose de heroína. Mas ninguém há-de saber, principalmente a minha família e amigos. Vou esconder até poder!
Adiamento: “Eu sei que tenho que deixai de tomar estes comprimidos para dormir, mas tenho que encontrar a melhor altura para o fazer. Agora não. As férias são a altura ideal!”
Derrota: “Desisto de lutar! Tenho que aceitar aquilo que sou. O que é que hei-de fazer senão continuar?!"
Vitória antecipada: “Afinal não custou nada! Bem me parecia! Já há duas semanas que não bebo! A parir de agora só às refeições!
Fracasso total: “Nunca fumei tanto como agora. Passei de um para dois maços por dia. Está tudo contra mim. Se eu me livrasse de todos os problemas que me afligem, se conseguisse um emprego melhor, se ganhasse o totoloto, não tenho dúvidas de que então conseguia!
Mas como o totoloto não se ganha todas as semanas…. Muitas vezes esta ordem altera-se, pode-se regredir, saltar em frente ou permanecer numa determinada fase por qualquer razão.
Durante o texto fiz alusão a algumas dependências mais "comuns". Se quisermos fazer o exercício, tentemos aplicar este esquema às nossas próprias dependências, por mais mesquinhas que elas possam ser. Compras, último grito da tecnologia electrónica, telemóveis, doces, trabalho, desporto, não ser capaz de ir para a cama antes das duas da manhã, etc, etc. Afinal de contas estamos a chegar à Quaresma…

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Wall Street

Este post não precisará de muitas apresentações, não é verdade? Infelizmente pelas piores razões, este famoso bairro nova-iorquino tem andado nas bocas de todo o mundo, mais do que já era costume. Não é propriamente uma rua larga nem tão pouco comprida. Aliás, está fechada ao trânsito. Aquilo que lhe dá fama, que fez dela o símbolo do poder económico americano e que atraiu para as suas redondezas as sedes de muitas das maiores empresas mundiais, é o edifício do New York Stock Exchange. As origens da actividade bolsista remontam a 1792, época em que o país procurava erguer-se por si próprio após a conquista da independência. Nos últimos tempos, tornou-se tradição convidar as mais variadas personalidades de todo o mundo (políticos, actores, desportistas, celebridades, etc) para, de Segunda a Sexta, dar início (9h30) ou encerrar (16h00) mais um dia de transacções comerciais com o famoso toque da campainha de Wall Street.
Uma curiosidade: pelo menos uma portuguesa trabalha lá. Estamos mesmo em todo o lado…

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

As nossas dependências

Estar vivo é ser dependente; estar vivo e ser dependente é viver permanentemente dependente da Graça de Deus”. Esta frase é uma citação de Gerald May no seu livro “Addiction & Grace” (Harper One, 1988). Ele parte de uma definição bastante abrangente de “dependência”: “é todo e qualquer comportamento compulsivo e habitual que limita a liberdade do desejo humano”. Desta forma abarca tudo ou quase tudo o que faz parte da nossa vida diária. No fundo o que determina a sua existência é a liberdade que deixa ao ser humano e não a bondade ou maldade desse determinado comportamento. Ou seja: um acto moralmente bom pode ser considerado "dependência" se limitar a minha liberdade. Ele apresenta inclusive uma vasta tabela de dependências que vão desde a cafeína e os gelados, o álcool ou a droga, até aos amigos, ao casamento ou à família. O amor de uma mãe pelos seus filhos pode ser considerando “dependência”? Um sacerdote pode ser dependente da generosa e abnegada entrega à sua paróquia? À partida parece que não.
Talvez convenha esclarecer, à luz do seu pensamento teológico, o que é que ele entende por liberdade. Ele parte do princípio de que todos nós fomos criados por Amor e para Amar. E o amor exige liberdade. “A liberdade foi-nos dada com um objectivo: que possamos escolher livremente, sem qualquer tipo de coacção ou manipulação, amar a Deus e uns aos outros (…) este é o mais profundo desejo do coração humano”. Mas a nossa liberdade não é perfeita. “Espiritualmente, as dependências são formas bem arreigadas de idolatria. Os objectos das nossas dependências tornam-se os nossos deuses. (…) Desta forma as dependências ocupam o lugar e substituem o amor de Deus como fonte e objecto do nosso mais profundo e verdadeiro desejo.
Concordemos ou não, faz pensar!
E para já fico por aqui. Prometo voltar com novos episódios.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Valha-te S. Brás!



"Que Deus, por intercessão de S. Brás, bispo e mártir, te proteja de todos as doenças da garganta e de todas as outras enfermidades."


Este foi o texto de bênção das gargantas que hoje se fez no fim da missa a cada pessoa, individualmente. O ritual é simples e curioso: aproxima-se uma pessoa de cada vez e o sacerdote, ao mesmo tempo que pronuncia o texto da bênção, aproxima duas velas bifurcadas da garganta da pessoa.
A relação do santo com a garganta é fácil: conta-se que terá salvo uma criança que tinha um espinho encravado na garganta. Quanto à utilização das velas, diz-se vir do facto de a mãe da criança curada ter levado velas ao santo, quando ele estava na prisão.
O que nós aprendemos por estas terras...

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Saint Patrick's Cathedral


Em 1785 havia na cidade de NY cerca de 200 católicos e um padre. O local onde a comunidade se reunia era uma igreja dedicada a S. Pedro, ainda hoje aberta ao culto. Em 1808 foi criada a diocese de NY e no ano seguinte deu-se início à construção da respectiva catedral. Por influência dos muitos emigrantes irlandeses, a primeira Sé de NY foi dedicada a S. Patrício, patrono da Irlanda. Cinquenta anos mais tarde, o primeiro arcebispo de NY decide construir uma nova catedral, numa zona ainda pouco habitada da cidade. Actualmente Saint Patrick’s Cathedral está situada no centro de Manhattan, apenas com 5ª Avenida a separá-la do Rockefeller Center e bem perto do Central Park.
Ao entrarmos naquele espaço sagrado que institivamente nos convida a elevar o olhar e o pensamento para o Alto, não podemos deixar de reparar no primeiro altar lateral do lado direito onde há um cantinho com cheiro a manjerico: está lá o nosso S. António! Ainda que continuem a dizer que ele é de Pádua, basta ler a pequena nota biográfica para ficar a saber a cidade onde ele nasceu, Lisboa, bem como o seu nome de baptismo, Fernando!